Herman Melville é, por muitos, considerado como “um escritor de um só livro”: “Moby Dick” cuja primeira edição data de 1851. Porém, este romance sublime, inspirado na própria experiência de Melville a bordo de um navio baleeiro bem como na tragédia do naufrágio do “Essex”, afundado por um cachalote no Pacífico e historicamente descrita por Nathaniel Philbrick no livro “In the Heart of the Sea”, contém toda a épica descrição da trágica e constante alternância entre vida, morte e sobrevivência na busca do gigante supremo pelo baleeiro “Pequod”, comandado pelo obcecado Capitão Ahab: um cachalote branco, imenso de poder e tamanho, que assombrou os pesadelos de todos os baleeiros da Nova Inglaterra. Foi com “Moby Dick” e, mais tarde, através da minha profunda admiração pela baleação nos Açores que comecei a estudar estes animais. Na obra, pujante de imparável ritmo, só existe um objectivo – matar Moby Dick. Tudo termina, numa esperada tragédia, com o navio afundado e o corpo do Capitão Ahab enleado nos múltiplos arpões e cabos que lançou ao corpo imenso do grande cachalote branco. Este, ao mergulhar para o mar profundo, ainda hoje o menos conhecido de todos os ecossistemas do Planeta, arrasta o cadáver de Ahab que, ainda, parece acenar aos sobreviventes do que fora a sua tripulação…chamando-os, quiçá, para esse mesmo abismo.

João Pedro Barreiros

Angra do Heroísmo, 7 de Outubro de 2020